segunda-feira, 9 de março de 2009

ELEIÇÕES: SERÁ UM PROCESSO REALMENTE DEMOCRÁTICO?

ELEIÇÕES: SERÁ UM PROCESSO REALMENTE DEMOCRÁTICO?

O período eleitoral que se findou em 2008 demonstrou um enorme abismo cultural e ético na estreita, porém conturbada relação entre candidatos e eleitores, desnudando de vez, paradigmas preestabelecidos de conceitos de cidadania e consciência política.Consciência política esta, que anda a léguas de distancia do universo da população, que ainda vende seu voto por qualquer migalha ou qualquer tanto de quinquilharias, apesar da notória tentativa em vão do TSE de promover um pleito limpo e honesto em todas as instancias do processo.
No Distrito Federal não houve a disputa eleitoral, por não existir municípios e sim cidades satélites, mas no resto do país as disputas foram acirradas, especialmente aqui, muito próximas de nós, no chamado entorno de Brasília. Cidades como Valparaíso, Novo Gama, Cidade Ocidental, Luziânia, Formosa, Águas Lindas, Unaí, dentre outras, tivemos de tudo, desde impugnações de candidatos por improbidade administrativa até assassinatos políticos. Tudo em nome da máquina pública. Valeu todas as armas para se chegar ao poder.
No entorno Sul de Brasília a influencia de Joaquim Roriz, José Roberto Arruda e Paulo Octávio foram decisivas para fortalecer o bloco neoliberal liderados por DEM e PSDB (PP, PMDB, PR, PV) elegendo praticamente todos candidatos majoritários, além da maioria de Vereadores para as Câmaras Municipais, deixando muito pouco para coligações que traziam partidos da base aliada do Governo Federal, frustrando previsões de críticos que tinham como certo alavancar campanhas utilizando a imagem de Lula, o que nos demonstra mais uma vez que voto não se transfere, e que eleição municipal se difere de eleições estaduais e federal, apesar de não se dividirem.
Muitas alianças fortaleceram projetos nacionais, outras demonstram caminhos já antes previstos como é o caso de PT, DEM e PSDB, que já andaram juntos em muitos municípios, como foi em Belo Horizonte onde Marcio Lacerda do PSB foi eleito com o apoio do PSDB de Aécio Neves e o PT. Situação essa que fortalece o nome do atual governador mineiro ao Palácio do Planalto em 2010 na sucessão de Lula, com o apoio do Presidente numa possível transferência do tucano ao PMDB. Já em São Paulo o grande vitorioso foi sem dúvidas José Serra em duas situações importantes. Primeiro com a derrota de Geraldo Alckmin ainda no primeiro turno, o que demonstra fragilidade política de seu adversário de partido, e em seguida pela vitória do aliado democrata Gilberto Kassab, desbancando a ex-prefeita Marta Supilci do PT, com total apoio do Presidente. José Serra se cacifa de vez para 2010 na sucessão de Lula. O bloco da esquerda ideológica (PSOL, PSTU, PCB, PCO) e verdadeiramente voltada aos movimentos sociais e a luta dos trabalhadores ficou muito enfraquecida com as constantes traições de Lula, seja na reforma sindical, na reforma da previdência, seja na política de altas taxas de juros, ou seja, pelas constantes presenças de membros do alto escalão do governo envolvido em corrupção tais como o mensalão, navalha, sanguessugas, correios, vampiros, dentre outros; o que deixou parte da população desiludida com as propostas socialistas.
Nomes como José Dirceu, José Genoino, Antonio Palocci, Roberto Jéferson, Duda Mendonça, Waldomiro Diniz, Marcos Valério, Joaquim Roriz, Gim Argello, Renam Calheiros, todos participantes diretos ou indiretamente base do governo Lula (PTB, PMDB, PR, PP, PV) é a demonstração clara de toda sorte de maracutaias e corrupções que está envolvido um partido que historicamente foi criado para combater a corrupção e tinha como bandeira à ética na política, se vendendo vergonhosamente por um projeto de poder a todo custo, se aliando a partidos que sempre representaram a privatização, o atraso, a política de rebaixamento salarial dos trabalhadores e a péssima qualidade de vida para a sociedade em geral (PSDB, DEM). O caminho dos verdadeiros socialistas ideológicos será longo e penoso, no processo de conscientização, tendo que separar Lula de ideais de esquerda, afinal Lula e José Alencar é a perfeita aliança neoliberal, prova do apoio brasileiro a ações internacionais de Bush, e sua ocupação no Haiti.
Se as eleições municipais pelo país vieram desenhar o que será em 2010, no entorno sul de Brasília as esdrúxulas alianças e crimes políticos foram mais evidentes, e deixaram ainda mais latente o único interesse financeiro e nada de realmente voltado à população. O que dizer, por exemplo, do DEM e PT juntos em Cidade Ocidental na eleição de Alex Batista do PR para Prefeitura? Ou o PCB e PC do B estarem coligados numa chapa do PSDB e DEM para a prefeitura de Valparaiso de Goiás elegendo Leda Borges e Adolfo Lopes? Ou assassinatos a candidatos a vereadores em Águas Lindas?
Em todas as cidades do entorno se viu de tudo. Voto vendido por 20, 30, 40, 50 reais; ou, um botijão de gás, material de construção e até consultas médicas. Uma verdadeira calamidade.
Presenciamos também campanhas milionárias para Câmaras Municipais, onde um salário de Vereador em quatro anos de mandato jamais conseguirá repor os gastos de campanha. Então quais são os verdadeiros interesses por trás?
Caciques políticos com biografias marcadas por denuncias de corrupção também invadiram o entorno nas eleições de nomes importantes em Águas Lindas, Valparaiso de Goiás, Novo Gama, Luziânia, Cidade Ocidental, por exemplo. Nomes como Joaquim Roriz, Roberto Jéferson, Tático... Foram figurinhas certas nas ostensivas campanhas majoritárias, demonstrando articulações políticas capitalistas, vislumbrando muito lucro a banqueiros, especuladores imobiliários e usineiros, privatizando estatais e setores públicos (Leda em Valparaiso irá privatizar o setor de limpeza urbana gerando desemprego e enfraquecimento do movimento dos trabalhadores), perseguindo e precarizando cada dia mais a dignidade da sociedade e suas necessidades básicas.
Candidatos financiados pela empresa Anapolina, detentora há anos do total e péssimo serviço de transporte oferecido à população que sofre com atrasos, ônibus velhos, número reduzido de carros e linhas que não atende plenamente a todos os itinerários, prevendo aí a continuidade de tal monopólio ruim e deficiente a população. Enfim, é tanta sujeirada que fica difícil discriminar apenas algumas em linhas gerais, mas o fato é que um item foi fundamental nessas eleições municipais. O poder econômico. Candidatos a prefeitos e vereadores não ganharam mandatos públicos, e sim compraram literalmente. A eleição não foi baseada em propostas concreta para melhoria das cidades, e sim para quem poderia pagar mais pela fatia do bolo. Uma promiscuidade só.
Um dos bons caminhos seria uma profunda reforma política com financiamento publico de campanha, estipulando um teto de gastos eleitorais, além de equilibrar campanhas. Quem sabe assim pudéssemos eleger realmente candidatos do povo, compromissados com questões sociais sérias e de interesse da população, e não apenas candidatos interessados em triplicar suas próprias vidas econômicas.

Escrito pelo professor Weslei Garcia de Paulo, militante do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL em Valparaíso de Goiás.

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