sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DIA DO POETA

Dia do poeta! Terça-feira, dia 20 de outubro. Parabéns aos poetas. Mas escrever poesia, hoje, tão nebulosos os dias, justifica? Qual a importância da poesia com tanta conturbação à vista e escondida? Escrever poemas se a vida se turva. O marido bêbado que bate e depois estupra a mulher todo santo dia. A juventude se mata e morre nos embalos de sábado à noite, envolta em névoas tóxicas. Os remédios que deveriam ser distribuídos ao povo pobre são vendidos por quadrilhas e gente morre na fila. Gente morre na rua, vítima de balas traçantes na guerra civil mal dissimulada que se trava e se mistura às milícias de traficantes, bem embaixo das janelas lacradas pelo pânico. E gente morre nas estradas desenfreadas. E gente destrói plantações de frutas enquanto há fome. O dinheiro do governo – o nosso suado dinheirinho – nas mãos de terroristas. E as camisinhas se rompem e a menina de quinze anos se engravida e pega a morte no primeiro orgasmo. O velho se cala no canto da sala, na incerteza da aposentadoria pendurada no fio tênue da Previdência deficitária. O querosene do lampião queima a esperança no cafofo debaixo da ponte. O mendigo uiva e o cão sarnento rosna. Osso único. O dólar cai, a bolsa sobe e o banqueiro se dá bem. E vice versa: o banqueiro se dá bem. O emprego vai para o ralo. As prestações vencem e o salário se exaure nas dívidas contraídas por impulso de TVs mostrando que o barato é consumir. O país está a salvo, ou a caminho de. Os políticos na pantomima contumaz. O cansaço do palavrório. Quem não tem, – espera para amanhã. Quem souber escrever o nome do presidente do Irã que escreva – ele vem aí com todos os prótons e os neutros. Que Deus e o Menino Jesuzinho nos salve dos bispos milionários e dos padres pedófilos. Com tantos frutos de desamor e o pobre do Adão foi expulso do Paraíso por uma maçã. “Mundo vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo. Seria uma rima, não uma solução”. E o poeta desses versos já morreu. Santíssima! Pai nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso Nome, então por que escrever poesia? Para manter acessa a humanidade que ainda existe em cada um que possa ler. E porque o poeta é um doido mesmo. Amém.
Serviço
Crédito da imagem: www.aleac.ac.gov.br/aleac/edvaldomagalhaes/in…
Por Carlos Magno

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