domingo, 17 de maio de 2009

PROVA AVALIA ALGUÉM?

Uma educação de qualidade se prisma pela seriedade daqueles que fazem dela um caminho irrefutável de transformação social.
Não se pode simplesmente separar o ato de lecionar com o que antecede do cotidiano dos educandos, ou seja, não se separa a realidade social de uma criança com seu rendimento dentro de uma sala de aula, ou mesmo de um ambiente educacional. Mas infelizmente o processo avaliativo brasileiro vem privilegiando a exclusão social e educacional, dando extrema ênfase às avaliações escritas, as chamadas provas, não levando em consideração um contexto mais amplo onde se busca entender as causas que levam alunos ao baixo rendimento escolar, principalmente sob o aspecto social.
Assumir como único meio de avaliação a prova escrita é arriscar um método ineficiência e injusto no universo dos alunos. A prova deve ser encarada apenas como um momento na avaliação periódica, uma ferramenta de trabalho por parte do professor, dando-lhe suporte para avaliar de fato aquilo que tem seu aluno em conhecimento. Imaginemos duas situações hipotéticas: Na primeira o aluno X é excepcional, interessado, determinado, curioso e desafiador, mas no momento da avaliação, por um motivo qualquer, muitas vezes ligado a sua realidade social de miséria ou de violência doméstica, se encontra abalado psicologicamente, e incapacitado de realizar com êxito qualquer avaliação escrita. Temos também o aluno Y que é totalmente disperso, desinteressado, irresponsável e sem nenhum compromisso pelo próprio desempenho escolar. No momento da avaliação consegue esconder respostas estratégicas acerca do assunto de sua prova em locais fora do alcance de seu professor ou professora; ou ainda consegue ler as respostas de um colega próximo a sua carteira.
Ao receberem suas notas ambos os alunos possuem uma grande surpresa. O aluno X atinge uma nota inferior a média, e o aluno Y consegue nota quase total surpreendendo até a si mesmo. Como se pode afirmar que nesse caso a prova escrita avaliou alguém?
Não estou aqui defendendo o fim de prova escrita, muito menos afirmando que a prova escrita não avalia ninguém, mas busco uma profunda reflexão no sentido de que a prova é sim fundamental para o processo ensino-aprendizagem, mas tem de ser encarado com um momento de avaliação, e não o resultado final.
Obviamente o professor ou a professora dos alunos X e Y reconhece que a menção recebida pelos mesmos não condiz com a realidade escolar das crianças, mas se ele ou ela assumiu uma postura retrógrada de avaliar unicamente pela prova escrita cometerá um erro grave podendo afetar irremediavelmente todo seu percurso no magistério. Entretanto se é um professor ou uma professora que tenha uma concepção educacional mais progressista, certamente conseguirá avaliar seus alunos Y e X cotidianamente levando em consideração aquilo que possuem de bagagem, de conhecimento prático trazido de suas experiências e de suas realidades social, cultural e familiar.
Mas infelizmente essa falta de concepção abrangente e revolucionária muito defendida por Paulo Freire está presente em todas as camadas e etapas educacionais brasileiras.
Um exemplo disso é o vestibular e os concursos públicos. Instrumentos que também não avaliam de verdade ninguém, e possuem a tendência de exclusão social. Imaginemos novamente mais duas situações hipotéticas.
Na primeira o aluno X sempre estudou no ensino publico em tese deveria ter vaga garantida nas Universidades Estaduais e Federais, mas não consegue êxito nos vestibulares por ter recebido um ensino muito defasado, sobretudo o ensino médio. Tendo que no final trabalhar e pagar para cursar uma graduação em uma instituição privada. E quando consegue raramente entrar numa Universidade publica, precisa cursar matérias distintas, levando muitas vezes até dez anos por um curso que terminaria em cinco ou seis se cursasse grade fechada.
Isso porque nossas Universidades publicas distribuem suas disciplinas de uma maneira que impede do aluno que vem da escola publica de trabalhar. E esquece que infelizmente esse aluno necessita de sua labuta para o provimento de sua alimentação, vestimenta, enfim, sua sobrevivência.
Já o aluno Y sempre estudou na rede particular de ensino, do maternal ao ensino médio. Depois de concluído seu ensino médio ainda pagou um cursinho pré vestibular, e quando deveria cursar sua graduação numa Universidade privada, acaba logrando êxito e entrando nas Universidades Publicas. São as contradições de nossa educação.
É verdade que muitos programas ajudaram ao ingresso do aluno de escola publica nas Universidades Publicas como o Programa de Avaliação Seriada – PAS, Pro Uni e ENEM, e é bem verdade também que com o aumento desenfreado de faculdades privadas de norte a sul do país e a expansão dos cursos a distancia “facilitaram” o caminho do estudante a um diploma superior, mas é fato que houve também uma queda considerável na qualidade do nosso ensino. Por isso cabe a nós, professores, alunos e sociedade civil organizada o dever de cobrarmos de nossas autoridades competentes melhorias no ensino brasileiro. E mais seriedade, levando em consideração aquilo que o aluno tem de fato, e não simplesmente gráficos e estatísticas de números que mostram superficialmente um rosto turvo de nossa educação apenas para atingir metas neoliberais.
Weslei Garcia é professor em Valparaíso de Goiás, e autor do romance Um Alguém Especial.

2 comentários:

Weslei Garcia disse...

Adorei o artigo. Concordo plenamente. Nosso sistema de avaliação brasileira esta defasada.

blogduarte disse...

Quando vc disse que o ensino vem privilegiando a exclusão social, só pretendo ressaltar que deste o descobrimento do Brasil há uma educação para a elite e outra para a classe explorada.Até hoje não aconteceu nenhuma transformação que reduzisse ou até mesmo acabasse com a desiguadade social e a educação é e continua sendo perpetuadora do sistema social.
MARCILON